Livro 1
Cidade de Pilarium
20 de junho de 2072
“O encontro foi marcado...Cada um deles virá com seu poder e seu passado.
E então suas vidas se ligarão...
Para sempre.”
Capítulo 1- A Biblioteca e o Livro
Damon Luca
O seu carro luxuoso, negro, com tração nas quatro rodas e vidro fumê percorria lentamente aquela rua vazia, abandonada. Há muitos anos ele não vinha ali, mas nunca esquecera aquele lugar. O lugar infernal que mudara sua vida.
Damon Luca vagueava os olhos pelas calçadas escuras e sujas, pois alguns lugares tinham restos de luz, mas outros estavam mergulhados na mais completa escuridão. Os faróis clareavam o caminho, que depois mergulhava novamente em sombras depois que ele passava.
Seus dedos estavam brancos pela força com que ele agarrava o volante. Sua respiração era curta, pesada. Em seu peito o aperto que o acompanhava há sete anos se expandiu até se tornar quase insuportável, ameaçando descontrolá-lo de vez. Mas ele se mantinha no controle, uma tênue linha entre o desespero e o desejo de vingança deixando-o no limite.
Lembrou de outra época, quando ainda um rapaz ingênuo e esperançoso de 18 anos percorreu aquela rua. Sete anos, mas parecia que tudo ocorrera apenas no dia anterior. Medo, angústia, esperança, determinação o levaram até ali. Mas o rapaz que deixara o lugar saiu muito diferente, um adulto desesperado, sofrido, no fundo do precipício, aprendendo da forma mais dura possível a se tornar um homem, entendendo pela primeira vez o que era dor e perda.
Não bastasse tudo isso, naquele dia ele não perdera tudo. Em algum momento de toda aquela tragédia ele ganhou um poder além de qualquer imaginação, um poder que o acompanhava todo aquele tempo e que agora ele controlava.
Damon passou com o carro em frente a biblioteca velha e abandonada, seu olhar duro recordando suas paredes esfacelando-se, a sujeira cobrindo-a. Não parou. Seguiu mais a frente e só então estacionou o carro na parte mais escura da rua. Chegara ao seu destino.
Passado e presente teimavam em se mesclar em sua mente, mas ele tentou se controlar. Precisava de sua força e frieza para entender o que era tudo aquilo, se mais uma armadilha ou uma revelação. A que ele esperava e lutava para encontrar há sete anos.
Lembrou-se do bilhete estranho que encontrara no meio de sua correspondência. Uma carta sem remetente, com letra bonita, que o deixara quase que paralisado:
“Ao cair da noite, esteja na velha biblioteca da rua Quinta com a Santra. Seu passado pode ser esclarecido. Estarei a sua espera.
Ass.: P.L.”
O mesmo local em que fora mandado no passado, orientado a abrir o livro e ler um bilhete. Onde deixara a bolsa com dinheiro em troca do seu bem mais precioso, que lhe fora tirado de forma violenta e bruta. Outro encontro lá, marcado misteriosamente.
Damon saiu do carro, constatando que sua automática estava bem firme sob o paletó e sua pistola encaixada sob o cós de sua calça. A diferença era que agora ele estava preparado.
Andou pela sombra até a entrada da biblioteca, atento, em guarda. Mantinha suas emoções firmemente presas, pois precisava de autocontrole naquele momento. Seu semblante estava tão carregado e concentrado que talvez nem suas fãs mais fanáticas pudessem reconhecê-lo naquele momento.
Apesar do local abandonado, lá dentro havia luz. Lâmpadas nuas e penduradas iluminavam o saguão e o corredor, como se o convidassem a ir por ali. O resto do prédio estava mergulhado na escuridão.
Tenso, Damon segurou sua pistola dentro do paletó e seguiu o corredor em silêncio. Apenas uma sala estava iluminada. Ele parou em sua entrada e olhou em cada canto, antes de ter certeza que estava vazia. Só então entrou naquela sala que estava exatamente como há sete anos, como se cada buraco, sujeira e páginas pelo chão tivessem sido congelados no tempo.
Cerrou o maxilar, nervoso, sentindo a adrenalina se espalhar em seu sangue, seu coração disparar. Fitou a mesa a um canto, vazia. Lembrou-se do livro antigo ali, esperando por ele. Era o único ponto discordante de toda a cena.
Por fim, percebeu que quem quer que marcara com ele ainda não tinha chegado. Sem perder a atenção, afastou algumas garrafas do seu caminho e viu uma de vodca no chão, intacta. Se não precisasse tanto de todos os seus sentidos e reflexos perfeitos, um trago cairia bem. De qualquer forma pegou-a, rolou-a entre os dedos e se recostou na ponta da mesa. Tinha muito o que pensar até a pessoa que marcara aquele encontro chegar.